Pessoas que passaram por eventos psicologicamente muito intensos podem sofrer de transtorno de estresse pós-traumático, mais conhecido pela sigla de seu nome em inglês, PTSD. Essa condição faz com que a pessoa entre num estado de estresse exacerbado, às vezes debilitante, quando ela passa por uma situação que tenha alguma similaridade com o evento original. É um trauma paralisante.
O diagnóstico de PTSD é geralmente feito baseado em entrevistas clínicas ou em medidas de auto-avaliação, o que está sujeito a vieses que podem exagerar ou subestimar sintomas. Não há maneira objetiva de classificar portadores da condição.
Pelo menos não havia, até a publicação no último dia 22 de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Nova York. Eles usaram gravações de entrevistas clínicas de 52 casos com PTSD e 77 controles (sem a condição) para identificar 40526 variáveis extraídas de padrões de fala, e usaram essas variáveis para treinar um modelo baseado em random forest. O modelo usou 18 dessas variáveis e atingiu uma precisão de 89%, com AUC de 0,954. AUC é uma métrica de desempenho do modelo que busca mensurar o equilíbrio entre a taxa de verdadeiros e falsos positivos – quanto mais próximo de 1, melhor. Um resultado impressionante, inédito na literatura relacionada. Os marcadores de fala mais fortemente associados com PTSD foram aqueles que indicam fala lenta, mais monótona, menos mudança em tonalidade, e menor ativação, padrões esses já reconhecidos anedoticamente por clínicos.
Vários estudos já haviam sido iniciados buscando marcadores biológicos para PTSD, como alterações em estruturas neuronais, na expressão de genes, ou em neuroquímica, mas as vantagens de usar fala são evidentes: ela pode ser medida de forma barata, não-intrusiva, e até remotamente. Por outro lado, muitas outras condições psiquiátricas já vinham sendo analisadas por padrões de fala, mas os trabalhos com PTSD eram escassos. Os pesquisadores do presente estudo procuraram preencher essa lacuna.
Ainda há a necessidade de validar esses resultados com uma amostra independente, e de verificar seu desempenho na classificação de formas mais severas de PTSD, mas o potencial do uso de inteligência artificial como uma simples mas eficiente ferramenta de diagnóstico está demonstrado. O futuro parece promissor.