Como a inteligência artificial deve afetar nossa própria humanidade

Em um extenso documento intitulado Artificial Intelligence: Rethinking Humanity’s Evolution [Inteligência Artificial: Repensando a Evolução Humana], publicado no dia 21, a empresa de consultoria em transformação digital NEORIS, baseada em Miami, apresenta o estado atual da inteligência artificial, enumera as tendências que devem ganhar força no futuro próximo e prevê a revolução que deve ocorrer nas décadas seguintes.

O relatório começa chamando atenção para o fato de que a inteligência artificial evoluiu tanto nos últimos anos e se tornou tão onipresente que “amanhã está aqui”. Primeiro foram os algoritmos de machine learning que permitiram que os sites que visitamos nos façam sugestões, depois deslanchou o processamento de linguagem natural que nos capacita a falar com nossos smartphones, e agora vemos a explosão do deep learning que é capaz de nos marcar nas fotos das redes sociais automaticamente. Atualmente, esses métodos precisam de uma quantidade grande de dados, e de supervisão humana em pelo menos algum grau, para que aprendam a identificar e correlacionar padrões, que usam para chegar em conclusões. Ultrapassar a próxima barreira na questão de desempenho envolverá o aprimoramento de tecnologias como o aprendizado profundo reforçado (deep reinforcement learning) e algoritmos probabilísticos complexos, de forma a aproximar o funcionamento da inteligência artificial ao do raciocínio humano. Entretanto, isso parece ser só questão de tempo. Aliado à evolução de hardware que acontece a passos largos, esses avanços metodológicos tornam provável que a inteligência artificial eventualmente ultrapasse a inteligência “natural”, dando início à era da superinteligência artificial.

Na área de negócios, a inteligência artificial já se tornou a espinha dorsal digital da indústria de serviços financeiros, sobre a qual se desenvolve o crescimento comercial. Entretanto, hoje a atuação da IA está limitada à automação operacional. O novo paradigma que ganha tração envolve o uso de dados não estruturados, como textos, imagens e voz, para também garantir o atendimento de regulamentações, melhorar a adesão de clientes, promover a transparência e direcionar uma experiência de uso personalizada ao nível individual. Os avanços nos métodos de IA devem se integrar a outras tecnologias emergentes como blockchain para otimizar a privacidade, a confiança, a segurança e a autenticação de operações financeiras.

As indústrias de telecomunicações e mídia são as que estão adotando a IA mais rapidamente. O iminente lançamento da tecnologia 5G, e o consequente nascimento da “internet das coisas”, onde todos os nossos equipamentos eletrônicos devem estar conectados – com a internet e entre si – deve promover a maior transformação direta na vida das pessoas. Ao invés de gerenciar operações, a inteligência artificial se tornará responsável por gerenciar experiências. Isso vai de encontro ao estabelecimento da emergente “economia da experiência do consumidor”, onde produtos e serviços se tornam meros meios para vender satisfação.

Na área de manufatura, a IA já tem o papel de construir o produto físico – pense nos robôs em uma linha automotiva -, mas ela também deve logo ficar responsável por tarefas como automação, design de produto, manutenção preventiva, detecção de falhas e predição de rendimento. A incorporação de sensores nos produtos vai disponibilizar à indústria acesso a dados até então inexistentes, que vão ter impacto nos modelos de produção. Os próprios dados podem ser comercializados e se tornarem uma nova fonte de rendimento. Os dados gerados serão tão abundantes que permitirão o desenvolvimento de “gêmeos digitais”, tanto de produtos como do próprio mundo físico, o que facilitará consideravelmente a fase de design e testes em um ambiente virtual, reduzindo os custos da fase final de testes do produto final.

No que se refere à experiência humana, a IA tem participado através de dispositivos conectados e dos dados que eles produzem, mas no futuro próximo, a tecnologia precisará cada vez de menos dados, sendo capaz de raciocinar usando senso comum, como nós fazemos. Devido à própria natureza de seus negócios, as empresas na vanguarda do desenvolvimento da superinteligência artificial são Google, IBM, Amazon, Microsoft, Apple e Facebook.

O relatório termina estimando quando as maiores quebras de paradigma devem acontecer. Há 50% de chance de que a inteligência artificial alcance o nível humano até 2050, e 90% de chance de fazê-lo até 2075. A superinteligência deve se tornar realidade por volta de 2100. Mas não são só as máquinas que se tornarão “pensadores perfeitos”. Tudo indica que aos poucos nós acabemos nos integrando à tecnologia, seja pelo uso de dispositivos vestíveis que aumentarão nossas habilidades físicas – imagine enxergar no escuro -, seja por implantes cerebrais para aumentar nossas habilidades mentais – imagine fazer cálculos complexos sem calculadora. Pode parecer distópico, mas implantes similares já são usados para corrigir problemas de audição ou operar – e sentir – membros prostéticos, e se espera que o mercado mundial de neuropróteses alcance o valor de 14 bilhões de dólares até 2020.

Se a gente tem se impressionado com o mundo atual, ainda não vimos nada.

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