Quando uma sonda espacial pousa em outro corpo celeste, ela começa a coletar amostras de solo, que são analisadas pelos equipamentos instalados na sonda, e os dados são enviados à Terra para interpretação. Entretanto, o processo de transmitir dados pelo espaço é muito lento e caro, o que às vezes limita a quantidade de experimentos que os cientistas podem organizar.
Por isso, a NASA vem trabalhando em sistemas de exploração capacitados com inteligência artificial. A ideia é que os algoritmos façam um pré-processamento dos dados, e assim priorizem a transmissão das informações mais interessantes ou promissoras sobre os ambientes interplanetários. Isso tende a aumentar expressivamente o valor científico das missões espaciais.
ExoMars, a primeira sonda habilitada com a nova tecnologia, deverá ser lançada em 2022/2023, com destino a Marte. Ela conterá um espectrômetro de massa chamado de MOMA (Mars Organic Molecule Analyser, ou Analisador de Moléculas Orgânicas de Marte), que vai procurar por sinais de vida passada ou presente no solo do planeta vermelho. A inteligência artificial será responsável por selecionar quais amostras vão compor o estudo, de acordo com sua potencial relevância. Em testes realizados pela agência americana, o sistema atinge 94% de precisão na classificação de amostras desconhecidas a partir do espectro de análise dessa técnica.
Como esse é um estudo piloto do novo sistema, a ExoMars ainda vai transmitir a maioria dos dados para a Terra (cujo tempo de transmissão é de cerca de 20 minutos, e o custo é cerca de 100 mil vezes o dos nossos celulares), mas isso servirá para validar as decisões tomadas pela IA. É essencial ter certeza de que a abordagem não está descartando informações importantes para os projetos de pesquisa. O objetivo de médio prazo é desenvolver um sistema robusto para missões futuras tendo destinos mais distantes, como as luas de Júpiter e Saturno, de onde os sinais devem levar cinco a sete horas para chegarem à Terra. Estas novas missões terão que ser ainda mais independentes, decidindo por exemplo se uma amostra deve ser reanalisada antes de receber qualquer feedback humano, o que levaria tempo demais.
A incorporação de inteligência artificial na exploração espacial deve catapultar as descobertas sobre nossos vizinhos no Sistema Solar. Com essa integração entre as duas áreas, a década atual tem potencial para se tornar um novo marco na astronomia.