Ontem começou o Google I/O, eventual anual onde a empresa apresenta as novidades em que está trabalhando e que devem logo ser disponibilizadas ao público. Este ano, uma das atrações foi o LaMDA (Language Model for Dialogue Applications, ou Modelo de Linguagem para Aplicações de Diálogo), que faz uso de toda a experiência do Google em inteligência artificial de processamento de linguagem natural para sistemas conversacionais.
Nos últimos anos, a empresa já fez avanços impressionantes nas áreas de tradução e pesquisa contextualizada, mas a área conversacional sempre foi um dos maiores desafios para a inteligência artificial, dada sua natureza aberta: as conversas naturais mudam de direção o tempo todo. A maioria dos chatbots hoje em dia consegue entregar alta performance mas apenas em um tópico específico, não alcançando a flexibilidade que os diálogos humanos apresentam. O novo modelo de linguagem, entretanto, dá um passo importante neste sentido, sendo capaz de se engajar de forma fluida em uma infinidade de tópicos.
O LaMDA vez sendo desenvolvido há anos, sendo a iteração mais recente de um trabalho publicado ano passado apresentando o Meena, um chatbot que demonstrava o potencial da abordagem adotada pelos pesquisadores do Google. Assim como os modelos de linguagem mais recentes, ele é baseado nos transformers, uma estrutura de rede neural responsável por aplicar os chamados mecanismos de atenção a textos. O grande diferencial é que este modelo foi treinado com diálogos, sendo no final do processo capaz de apreender as nuances que diferenciam conversas de outras formas de comunicação. Uma dessas nuances é a sensatez, que dá respostas consistentes e adequadas a frases que o usuário fornece como entrada. Desde a publicação do Meena, os pesquisadores descobriram que seu fine-tuning produzia resultados ainda mais sensatos, e assim surgiu o LaMDA.
Na apresentação da nova tecnologia, a empresa mostrou o LaMDA em ação enquanto ele personificava o planeta-anão Plutão, e depois um avião de papel. A inteligência artificial manteve a conversa em curso, respondendo às perguntas sobre como é ser um corpo celeste ou uma folha de papel dobrado.
No momento, o modelo é ainda tratado como em desenvolvimento. Os autores estão agora explorando outras dimensões relacionadas ao diálogo, como a capacidade de gerar respostas interessantes, sejam elas perspicazes, inesperadas ou inteligentes. Eles também estão incorporando formas de garantir que o sistema se atenha a informações verdadeiras, para não produzir apenas respostas convincentes mas também corretas, o que tem sido um dos maiores desafios para modelos de linguagem conversacionais.
Toda esta evolução serve como prenúncio de como vamos nos relacionar com a inteligência artificial no futuro próximo. Os assistentes virtuais serão capazes de atender a pedidos cada vez mais específicos, mesmo que nosso objetivo seja simplesmente jogar conversa fora.