Muitos dos grandes pintores da história só ficaram famosos tardiamente, se não após a sua morte. Como os materiais necessários para confeccionar arte eram caros, não era incomum que eles reaproveitassem a mesma tela, pintando uma nova composição sobre outra. Atualmente, técnicas modernas de inspeção visual podem revelar esses trabalhos ocultos. É o caso do quadro A Refeição do Homem Cego, de Pablo Picasso, datado de 1903. A análise com fluorescência de raios X mostrou outra imagem escondida abaixo das camadas de tinta da superfície. A composição descoberta, batizada de A Nudez Agachada Solitária, permaneceu apenas parcialmente desvendada, dadas as limitações impostas pela visualização de raios X. Mas agora, graças à inteligência artificial, a imagem original foi reconstruída.
O trabalho foi realizado pela empresa Oxia Palus, que se especializou em utilizar tecnologia para ressuscitar arte perdida. A companhia usou os dados de raio X e técnicas de processamento de imagem para determinar os contornos da pintura. Depois, um sistema de inteligência artificial foi treinado para reproduzir o estilo de pintura de Picasso, de acordo com o período em que a imagem foi pintada. À reconstrução feita pelo sistema, foi adicionado um efeito para lhe dar textura, e a imagem foi finalmente aplicada sobre uma tela usando impressão 3D.
Segundo especialistas, a reconstrução de fato se parece com o período inicial da carreira de Picasso. Curiosamente, a mesma figura feminina também aparece no quadro “La Vie” e em alguns de seus rascunhos, o que pode sugerir que a mulher que serviu de inspiração para as composições era próxima do artista. Para aficionados por arte, e principalmente para os fãs de Picasso, certamente é motivo de animação descobrir uma nova obra sua, feito que teria sido impossível sem a tecnologia que hoje temos disponível.
A obra está atualmente em exposição na Deeep, em Londres, feira voltada para arte produzida por inteligência artificial.