Os grandes modelos de linguagem não são apenas chatbots sofisticados, mas também podem ser aplicados em cenários bastante inusitados para resolver problemas diversos. Um artigo apresentado no começo do mês, de autoria de pesquisadores da Universidade de Stanford e do Google, fez exatamente isso. Eles usaram diversas instâncias de modelos de linguagem para popular uma pequena cidade virtual, e observaram como esses chamados agentes generativos se comportaram durante o experimento, simulando o jogo The Sims, mas de forma completamente autônoma.
No início do experimento, cada agente recebeu um pequeno roteiro para descrever quem ele era, quais eram suas atividades rotineiras e suas conexões com os outros agentes. Por exemplo, um agente assumia o papel de um farmacêutico, pai de família, vizinho de um casal de idosos. Sua esposa era professora e seu filho estudava música. Depois de um prompt inicial do tipo“são oito horas da manhã de segunda-feira, e você está acordando”, os agentes eram deixados livres. O interessante é que, além de produzirem ações relacionadas aos seus objetivos e ao ambiente, eles também interagiam entre si, formando laços sociais.
Ao todo, a cidade virtual contou com 25 habitantes. O modelo de linguagem não foi a única ferramenta a permitir as ações dos agentes; como eles interagiam ao longo de vários dias, também foi preciso criar um sistema para armazenar memórias de longa duração. No final das contas, foi possível observar que, além de executarem suas rotinas, os agentes também formavam opiniões, notavam uns aos outros, iniciavam conversas, se lembravam e refletiam sobre eventos passados e planejavam o dia seguinte. Em um cenário, por exemplo, um agente foi instruído a dar uma festa, e logo a pequena comunidade começou a se organizar ao longo dessa ideia, distribuindo convites, convidando companhias e se organizando para comparecer juntos ao evento.
O objetivo declarado dos pesquisadores foi gerar agentes computacionais para simular comportamento humano. Esta simulação poderia ser utilizada na geração de aplicações interativas, como ambientes imersivos, espaços de ensaio para comunicação interpessoal e ferramentas de prototipagem. Imagine uma empresa que queira mensurar o impacto de um rebranding antes de testar a ideia no mundo real. O trabalho apresentado é um primeiro passo nesse sentido, fazendo uso de uma tecnologia que, ainda que recente, tem se revelado cada vez mais disruptiva.