No ano passado, a Microsoft divulgou um estudo encomendado à consultoria americana DuckerFrontier sobre o impacto que a inteligência artificial pode ter na economia brasileira. O relatório foi baseado em simulações que consideram a adoção de IA nas áreas de serviços públicos, prestação de serviços corporativos, comércio varejista e atacadista, hotelaria, alimentação, construção, manufatura, mineração, água, energia, agricultura e pesca. Em um cenário de adoção máxima, o estudo prevê que o PIB nacional tem potencial para crescer 7,1% ao ano até 2030. Esta é uma taxa 4,2% maior que a projetada pelo Banco Mundial, baseada no cenário atual. Mesmo em uma possibilidade mais modesta, considerando o histórico de adoção de IA da América Latina, o estudo indica ser possível obter índices de crescimento de 4,7% ao ano.
Os benefícios da adoção massiva de inteligência artificial não são restritos aos impactos diretos nos indicadores econômicos. O estudo ainda prevê um aumento de até quatro vezes nos níveis de produtividade. No mercado de trabalho, esta mudança de paradigma criaria novos empregos, tanto na fase de adoção como decorrente dos novos produtos e serviços ofertados. Em comparação às estimativas atuais, haveria 103% mais postos de trabalho disponíveis até 2030, mesmo após compensar os efeitos da automação. O maior impacto seria sentido na área de serviços corporativos, com aumento de 258% nas ofertas de trabalho, seguido por manufatura (73%), comércio, hotelaria e alimentação (44%) e construção (42%).
O estudo ainda aponta para uma possível redução da carga horária devida aos ganhos de produtividade, o que já é tendência nos países mais industrializados, mas um aumento da demanda por profissionais altamente qualificados, que costumam ter salários maiores. Os trabalhadores com este perfil passariam a compor 54% do emprego total no país, frente aos 34% atuais.
O relatório apresentou um índice para classificar 7 economias da América Latina em relação ao nível atual de adoção de IA e à possibilidade de ganhos com a tecnologia. O Brasil se encontra no quadrante com menor desenvolvimento porém maior potencial de ganho.
Ainda que o estudo não tenha levado em consideração os impactos da pandemia do novo coronavírus, a situação atual torna as conclusões do estudo ainda mais relevantes. O planejamento da recuperação econômica, e do subsequente crescimento de médio e longo prazo, pode encontrar benefícios impactantes com a adoção de soluções baseadas em inteligência artificial em diversos setores. De acordo com o relatório, as áreas de maior prioridade deveriam ser as relacionadas ao governo, a serviços públicos e governança; educação e capacitação; pesquisa, inovação e desenvolvimento; infraestrutura de tecnologia; e ética, regulamentação e legislação.