A doença de Parkinson acomete cerca de 10 milhões de pessoas no mundo, e ainda não existe uma cura. As pessoas acometidas têm à sua disposição tratamentos medicamentosos e cirúrgicos que conseguem apenas aliviar alguns dos sintomas. Outros, entretanto, são mais difíceis de tratar. É o caso do chamado congelamento da marcha, que faz com que a pessoa tenha os músculos paralisados enquanto está andando. Além do evidente incômodo, dependendo da situação, a paralisia pode causar quedas e consequências maiores.
Um grupo de estudos da Universidade William & Mary, nos Estados Unidos, está trabalhando em um sistema que aplica inteligência artificial para oferecer uma primeira opção de tratamento para esta condição específica. O estudo dos padrões de locomoção de um paciente pode fornecer um perfil a partir do qual qualquer desvio pode ser identificado, e uma intervenção sugerida. Entretanto, até então, a única forma de coletar estes dados era utilizando tapetes especiais, que pelo alto custo e baixa portabilidade, só costumam ser utilizados em clínicas. Mas os pesquisadores aproveitaram a ideia para testar o chamado UltiGesture, um dispositivo móvel dotado de acelerômetro e giroscópio que cabe na palma da mão e custa 10 dólares, para capturar essas informações. Durante o desenvolvimento do trabalho, os usuários caminhavam com o dispositivo fixado no tornozelo, enquanto estava conectado via Bluetooth ao seu smartphone.
Com uma quantidade de dados razoável coletada, entra a inteligência artificial. Um algoritmo foi treinado para identificar os padrões de movimentação de cada paciente, de forma individualizada. Ao fim, é possível reconhecer os sinais que correspondem ao caminhar natural, e os desvios mínimos que prenunciam uma parada causada pelo episódio de congelamento da marcha.
Na próxima fase da pesquisa, o UltiGesture deve ser integrado ao dispositivo VibeForward, que produz vibrações localizadas no tornozelo e nos pés para estimular o movimento nas pessoas que estejam com dificuldades de se mover. A intenção é que o sistema todo seja capaz de identificar com prontidão o início da paralisia e agir preventivamente, evitando que o paciente trave no meio de uma passada.
Mas o projeto tem objetivos ainda mais ambiciosos, que ainda estão em fase inicial de estudos. A equipe planeja integrar informações sobre os estímulos ambientais aos dados que devem ser analisados pela inteligência artificial, considerando assim também as situações que podem servir como gatilho psicológico para a paralisia, como passagens de porta e elevadores.
Em sua versão final, o sistema pretende devolver a autonomia de deslocamento aos pacientes da doença de Parkinson, aplicando inteligência artificial enquanto uma cura definitiva não está disponível.